Trabalhar na agricultura é o sonho de muitos. Viver das próprias plantações, sejam elas de fruta ou legumes e vegetais, ou até da criação de gado, é a vida que muitos querem. Mas será que o trabalho na agricultura foi sempre igual? Não! E é isso que vamos ver aqui.
Portugal mostra-se um país “de ouro” quando o assunto é a agroindústria (ou agronegócio). A área agrícola é uma das mais procuradas no país por estrangeiros que têm uma formação na área e as razões são fáceis de explicar.
Portugal tem um clima que propicia a agricultura, além de oferecer muitas oportunidades de trabalho na área agrícola.
Tendo em conta que a agricultura é um dos setores que mais nos dá riqueza e crescimento económico, é um setor que merece a nossa atenção.
Ao longo do tempo, a agricultura sofreu muitas mudanças e já se fala também numa nova revolução agrícola em Portugal, com a criação de startups e produção em escala para exportação.
Queres saber um pouco mais sobre como é trabalhar na agricultura? Então segue connosco!
Agricultura em Portugal
Em Portugal, a agricultura tem sido alvo de muito investimento tecnológico, mas também há um investimento forte na formação de profissionais qualificados na área, o que torna a agricultura muito mais evoluída, com capacidade de crescimento e maiores rendimentos.
Estufas, painéis solares, adubos de qualidade e controlo de pragas eficiente é o que podemos verificar atualmente nas grandes produções agrícolas.
Embora existam ainda produções não tão evoluídas, o caminho que fazemos é nesse sentido, para termos uma maior produção, assim como para diminuirmos os riscos associados ao setor.
Apesar de sermos um país pequeno, existem muitas diferenças na forma como se distribui o setor agrícola de norte a sul do país.
Para quem está a pensar investir no setor, tem de ter em consideração o que se produz e como se produz em cada uma das regiões.
Por exemplo, entre o Douro e o Minho, temos agricultura intensiva, até porque a extensão dos terrenos é pequena. As propriedades agrícolas não ultrapassam (ou só casos muito raros) os 3 ha. Produz-se, na sua maioria, cereais (milho) e vinha.
No entanto, se formos para Trás-os-Montes, vemos já uma agricultura extensiva e as propriedades têm, em média, entre 6 e 7 ha. Produz-se cereais (centeio), batata, vinha, oliveiras e castanheiros.
Se olharmos para o sul do país, como o Alentejo, por exemplo, assistimos a grandes propriedades, às quais chamamos latifúndios (ao contrário dos minifúndios que temos no norte de Portugal). Por isso, a agricultura é extensiva, com grande produção de cereais (trigo), arroz e girassol.
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Como é Trabalhar na Agricultura no século XXI?
Como já dissemos, hoje a agricultura está modernizada, com um investimento tecnológico muito forte e assistimos a uma melhor formação dos profissionais que atuam na área. Sem dúvida, essa evolução da agroindústria transformou o setor e hoje oferecem-se melhores condições de trabalho do que outrora.
O centro e o sul do país são as regiões com mais oportunidades de trabalho no setor, até porque são essas as regiões onde se encontram os latifúndios, mas também porque a maior parte da população vive no litoral (longe das plantações), havendo, assim, falta de trabalhadores.
Além de ter mais vagas de trabalho, os salários também são melhores no centro e sul do país.
Ao contrário do que muitos pensam, o trabalho na agricultura não se restringe aos agricultores (as pessoas que plantam, colhem, adubam…).
O setor agrícola, hoje, envolve uma série de profissionais altamente qualificados, como o engenheiro agrícola, o ampelólogo, ou o técnico de aeroponia, por exemplo.
A ideia de se trabalhar de sol a sol, de enxada na mão, é hoje descabida na maior parte das produções. Existe um horário de trabalho, direitos laborais, férias, folgas, seguros, entre outras regalias que temos em qualquer outro trabalho.
Com os avanços tecnológicos, o trabalho também é mais fácil, com máquinas que auxiliam o trabalho, e melhoram também as produções.
Se atualmente o cenário é tecnológico e onde existem direitos laborais, a verdade é que nem sempre o assim foi. O setor agrícola passou por sérias dificuldades no século passado (e não faz assim tanto tempo).
Queres saber como era trabalhar na agricultura num passado não muito distante?
Continua connosco!
Como era trabalhar na Agricultura em Portugal antes do 25 de Abril?
Antes do 25 de Abril, durante a ditadura salazarista, os trabalhadores agrícolas não tinham direitos laborais. Eles viviam isolados, quase que “apartados” do resto da sociedade. Podemos dizer que, na época, os agricultores e todos os trabalhadores do setor eram vistos como inferiores, de uma classe social menor que qualquer outra no país.
A realidade era dura.
Havia falta de água potável, não havia rede de esgotos, nem sequer eletricidade. As casam em que viviam tinham o chão em terra, sem condições de higiene e o conforto era nulo.
Se hoje temos uma rede de transportes boa e condições para ter um carro próprio, o mesmo não se podia dizer daquela altura.
Os trabalhadores andavam a pé, em média, entre 1 a 2 horas por dia para irem das suas casas para o trabalho.
Não havia um horário de trabalho humano, como nas profissões da área dos serviços. Era, efetivamente, um trabalho de sol a sol, ou seja, desde que o sol se levantava até que se punha.
Os salários eram incrivelmente baixos. Para teres uma ideia da miséria deste setor, por dia, os homens ganhavam 50 a 60 escudos por dia (equivalente hoje a 25 a 30 cêntimos) e as mulheres ganhavam entre 35 e 40 escudos por dia (15 a 20 cêntimos).
Poderíamos dizer que esta é uma realidade distante, porque assim parece. Mas não é! Estávamos já na segunda metade do século passado quando esta realidade se verificava.
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A revolta dos operários agrícolas
Só nos anos 60 os trabalhadores agrícolas conquistaram o direito de ter um horário de 8 horas de trabalho. Foi uma luta difícil, até porque havia um controlo apertado e repressão por parte da PIDE (polícia política do regime de Salazar).
Mas esta conquista não fez com que a vida destes trabalhadores melhorasse. Havia poucos trabalhadores efetivos, o que quer dizer que a maior parte só trabalhava sazonalmente.
Ora, com salários muito baixos e com trabalho apenas de meio ano, tornava-se difícil sobreviver. Era necessário aproveitar tudo o que a natureza oferecia e fazer um racionamento sério de todos os recursos.
A base da alimentação era o pão, acompanhado de vinagretes, por exemplo, dependendo do que havia em casa. Portanto, estas pessoas tinham uma alimentação pouco diversificada e o trabalho era árduo e exigente fisicamente.
As conquistas foram poucas para as grandes necessidades deste grupo social.
Agricultura depois do 25 de Abril
A luta dos trabalhadores agrícolas depois do 25 de abril de 1974 também não foi fácil. A ideia era ocupar os terrenos abandonados ou mal aproveitados, mas a verdade é que os proprietários não gostavam da ideia de serem “furtados” e dificultaram todo o processo.
Depois de muita luta, Alentejo e Santarém, assim como alguns distritos de Lisboa e Setúbal conseguiram ver os seus direitos assegurados numa primeira instância. Passavam agora a ter:
- Horário semanal de 45 horas
- Melhores salários
- Transporte para o trabalho
- Férias
Apesar dos direitos adquiridos, houve por parte dos proprietários uma sabotagem clara, com destruição de produções e venda de efetivos pecuários.
Com a reforma agrária, este cenário mudou e hoje conseguimos ter uma boa convivência entre patronato e trabalhadores agrícolas.
Mas ainda existem muitas questões a serem resolvidas. Os trabalhadores agrícolas não qualificados ganham, na sua maioria, o ordenado mínimo, e muitos dos contratados são imigrantes (muitos deles ilegais e, em alguns casos, escravizados).
Apesar de ainda serem precisos muitos avanços no setor, existe uma tendência crescente ao investimento na agroindústria, assim como a contratação de profissionais qualificados.
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